Dica de leitura: Coleção Nossas Heranças - Cultura Afro-Brasileira e Indígena
A escola é o lugar de construção, não só
do conhecimento, mas também da identidade, de valores, de afetos, enfim, é onde
o ser humano, sem deixar de ser o que é se molda de acordo com sua
sociedade. O Brasil, formado a partir das heranças culturais européias,
indígenas e africanas, não contempla, de maneira equilibrada, essas três
contribuições no sistema educacional. Por esse motivo, em janeiro de 2003, com
a aprovação da Lei Federal nº 10.639/03, o ensino de História e Cultura Africana e Afrobrasileira passou a ser obrigatório
nas escolas de Ensino Fundamental e Médio. Posteriormente, em janeiro de 2008,
essa lei foi substituída pela Lei Federal nº 11.645/08, que inclui também o
ensino de História e Cultura Indígena. Essas leis
alteram a LDB (Lei de Diretrizes e Bases) e têm o objetivo de promover uma
educação que reconhece e valoriza a diversidade, comprometida com as origens do
povo brasileiro.
O ambiente escolar, como um local que
reproduz aquilo que é vivenciado no dia-a-dia dos indivíduos que fazem parte da
sociedade, tradicionalmente, cedeu espaço para que os negros e uma pequena
parte da população indígena a adentrassem – ressaltando, é claro, eles ocupam,
na maioria dos casos, as escolas públicas brasileiras. Todavia, não
possibilitou que eles tivessem voz, para falar de sua identidade e para que,
quando ainda crianças, aprendessem a se amar e a se aceitar, talvez por isso a
auto-estima seja um dos pontos mais frágeis na maioria da população brasileira.
Nesse sentido, a Coleção “Minhas
Heranças” se revela uma forte aliada no cumprimento dessa tarefa. A partir das
brincadeiras e histórias contadas e vivenciadas por Ayodelê, Cauã, Jaci e
Kamau, os leitores são convidados a conhecer as influências das ascendências de
cada uma das personagens, além de “participar” de seu cotidiano e de sua cultura
local atual.
A Coleção “Minhas Heranças” é uma
importante ferramenta no auxílio do(a) educador(a) determinado a cumprir a Lei
em sua aula, afinal essa ação afirmativa não determina a criação de uma
disciplina específica para a abordagem de conteúdos referentes à História e Cultura Africana e
Afrobrasileira. Dessa forma, a Coleção “Minhas Heranças”, escrita com carinho e
comprometimento pelas autoras Elisabete Duarte e Raíssa Marconato, surge em um
momento de ânsia por novos materiais que busquem a implementação da Lei nas
escolas – tarefa urgente e essencial.
Esse material se apresenta como protagonista
de mudanças, como uma das medidas possíveis para a garantia de representação da
rica população brasileira, miscigenada e ainda carente de igualdade de
oportunidades. Trata-se de uma coleção que incentiva uma “educação de mulheres
e de homens”, parafraseando Paulo Freire, pois busca transformar o sonho de um
país mais igualitário e qualificado em realidade.
Por Paola Prandini (AfroeducAÇÃO)